Ilustração: Katrin Friedmann

Tempo de leitura: 10 min

A ciência por trás da satisfação sexual

*Tradução: Joana de Sousa

Ter uma vida sexual feliz é parte importante de uma vida plena

O significado de uma vida sexual feliz é subjetivo pois os nossos desejos sexuais, as expectativas e as necessidades sexuais diferem de pessoa para pessoa e evoluem à medida que crescemos e envelhecemos. Algumas pessoas querem ter relações sexuais diariamente, enquanto outras se contentam em nunca fazer sexo ao longo da vida.

Na investigação e no diagnóstico da disfunção sexual a subjetividade da satisfação sexual é considerada muito importante. Nas investigações sobre a qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (OMS), as quatro perguntas que se colocam sobre a vida sexual dos participantes são subjetivas (1). Ainda assim, embora cerca de 4 em cada 10 mulheres relatem algum tipo de disfunção sexual, só cerca de 1 em cada 10 relatam que a sua disfunção sexual está afetando negativamente a sua vida (2–5), sugerindo que uma vida sexual satisfatória não significa uma vida sexual "perfeita".

No entanto, apesar da subjetividade, existem fatores biológicos, psicológicos, físicos, relacionais e socioambientais que podem afetar positiva ou negativamente a nossa vida sexual. Alguns desses fatores podem ser influenciados, enquanto outros não, como por exemplo o envelhecimento (2–4). Independentemente de quanto controle exercemos sobre esses fatores, é importante percebermos que a nossa atividade sexual nem sempre está sob a influência da nossa consciência. Por isso é importante incentivar as pessoas a discutirem as suas preocupações com a saúde sexual com profissionais de saúde de maneira a reduzir o estigma.

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A anatomia sexual e o prazer sexual

A nossa compreensão do sistema reprodutivo feminino e da sua relação com o prazer sexual é incompleta. Existe um consenso de que a estimulação do clitóris e das terminações nervosas dentro do sistema reprodutor feminino podem levar ao prazer e ao orgasmo, no entanto os cientistas debatem a existência e a localização do ponto de Gräfenberg, mais conhecido como "ponto G" (6–8).

Existem poucas informações acerca do ponto G. A investigação cientifica sugere que o ponto G é um conjunto de terminações nervosas conectadas ao nervo pudendal ou então que é uma área altamente sensível que desencadeia sensações da vagina para o clitóris e dentro da uretra (6,7). Como o clitóris pode se mover com a excitação e durante o sexo, alguns cientistas sugerem que o ponto G é realmente parte do clitóris e que o clitóris pode ser estimulado com os movimentos do sexo com penetração vaginal (6). Dado que as sensibilidades nervosas e musculares podem e provavelmente diferem de mulher para mulher, o ponto G poderá não estar localizado no mesmo local ou existir em todas as mulheres (6, 7).

Um diagrama do clitóris

Da mesma forma, dadas as diferenças nas sensibilidades físicas ao toque e à estimulação, uma pessoa pode ser sexualmente estimulada pela interação com outras partes do corpo que não os órgãos genitais.

Categorias da função sexual

Os cientistas e profissionais de saúde geralmente dividem as queixas sexuais em quatro categorias principais:

  • Desejo, referindo-se ao interesse em sexo

  • Excitação, que se refere às mudanças físicas, como lubrificação, e às mudanças emocionais que as pessoas experimentam quando pensam ou tem relações sexuais

  • Orgasmo / satisfação

  • Dor física (2, 4-6)

Dependendo do objeto da investigação, as categorias podem ser mais específicas. Por exemplo, os alguns investigadores que examinam a dor física associada ao sexo geralmente estão interessados no local específico e no início da dor (6), pois conhecer informações mais detalhadas pode levar a um melhor tratamento ou a uma melhor compreensão da causa subjacente.

Como a disfunção sexual é algo comum (é reportada por cerca de 4 em cada 10 mulheres), um diagnóstico de disfunção sexual requer que a desordem tenha um impacto sério na qualidade de vida da pessoa (2).

Fatores biológicos

A idade tem um forte impacto na nossa vida sexual (2–5, 7–9). À medida que as pessoas envelhecem, elas começam a relatar mais disfunções sexuais, principalmente durante a perimenopausa (a transição para a menopausa e a menopausa) (2–5, 7–9). Esse aumento da disfunção sexual está provavelmente relacionado não apenas com as alterações hormonais, mas também com a degradação da saúde (2–5, 7–9)

A idade não piora necessariamente todos os aspectos da função sexual. Por exemplo, num estudo com mais de 2.600 mulheres iranianas observou-se que as mulheres com idades entre os 50 e os 60 anos referiam sofrer de disfunção de excitação quase cinco vezes mais do que as mulheres com idades entre os 20 e 29 anos (5). No entanto, nesse mesmo estudo, as mulheres com idades entre 50 e 60 anos tinham apenas metade da probabilidade de referir uma disfunção da dor quando comparadas com as mulheres de idade entre 20 e 29 anos (5). Esses resultados podem ser afetados por diferenças socioculturais entre as faixas etárias, mas também podem representar mudanças positivas no corpo que ocorrem com a idade.

O ciclo menstrual pode também afetar a vida sexual da pessoa. Em um estudo com 43 mulheres heterossexuais, investigadores chegaram à conclusão de que, à medida que o hormônio progesterona aumentava nas amostras de saliva das mulheres, elas relatavam uma diminuição do desejo sexual pelos seus parceiros (10). Esse resultado poderá ter uma explicação biológica, pois os níveis de progesterona aumentam após a ovulação e, durante um certo período de tempo é altamente improvável que o sexo dê origem a uma gravidez, e por isso o corpo da mulher pode não estar tão orientado para ter sexo quanto em outros momentos do ciclo menstrual.

Fatores psicológicos, físicos e farmacológicos

Existem muitos fatores psicológicos, físicos e farmacológicos conhecidos que afetam a função sexual. Entre esses incluem-se:

  • Lesões no sistema nervoso (por exemplo, a coluna)

  • Lesões no sistema reprodutivo

  • Depressão

  • Antidepressivos, particularmente inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS)

  • Cirurgia em órgãos reprodutivos, como uma estereocromia

  • Diabetes

  • Incontinência urinaria

  • Endometriose

  • Doença cardiovascular

  • Hipertensão

  • Obesidade e perímetro abdominal grande

  • Anticoncepcionais hormonais

  • Atividade física (2, 4, 6, 9, 11-16, 20-22)

Alguns dos fatores que afetam negativamente a função sexual não são modificáveis, mas outros podem ser tratados com mudanças comportamentais ou com a ajuda do(a) médico(a). Por exemplo, alguns antidepressivos afetam menos a função sexual do que outros, e obter tratamento para a depressão pode melhorar a disfunção sexual, apesar do uso de inibidores seletivos da receptação de serotonina ISRS (17, 18). Da mesma forma, alguns tratamentos para a endometriose demonstraram diminuir a disfunção sexual causada pela condição de saúde, enquanto outros são menos eficazes (19).

Está demonstrado que a atividade física afeta positivamente a função sexual (5, 12, 13). Num estudo com mulheres diabéticas, cada Equivalente Metabólico da Tarefa (MET) adicional reduziu significativamente o risco de disfunção sexual feminina em 9% (13). Da mesma forma, no mesmo estudo de mulheres iranianas mencionado anteriormente, as pessoas que relataram se exercitar várias vezes por semana tiveram duas vezes mais chances de relatar disfunção sexual feminina do que aquelas que relataram exercício diário (5). E as que relataram raramente/nunca se exercitam demonstraram ter três vezes mais chances de relatar disfunção sexual feminina (5).

Anticoncepcionais hormonais

Os investigadores debatem se os contraceptivos hormonais estão associados à diminuição do interesse sexual, mas isso parece não ser verdade para a maioria das pessoas (20–22).

Num estudo sobre a relação entre disfunção sexual e o contraceptivo hormonal, cerca de 15% das pessoas que usam contraceptivos orais combinados relataram efeitos sexuais negativos da utilização da pílula, e esse efeito estava principalmente relacionado com as pílulas com doses mais baixas de estrogênio. A maioria das pessoas não relatou qualquer alteração na sua função sexual, positiva ou negativa (20).

Para algumas pessoas, a proteção contra a gravidez proporcionada pelos anticoncepcionais hormonais pode melhorar sua experiência sexual porque lhes proporciona maior tranquilidade.

Num ensaio clínico aleatório, as mulheres a quem foi prescrito um contraceptivo oral combinado ou um anel vaginal hormonal, após três e seis meses de utilização relataram melhoria das funções sexuais em várias categorias quando comparadas com mulheres que não utilizavam contraceptivos hormonais (21). As mulheres dos dois métodos contraceptivos relataram estatisticamente menos ansiedade, ao mesmo tempo em que confirmaram ter mais iniciativa, orgasmos e maior intensidade do orgasmo em comparação com as mulheres que não usavam contraceptivos hormonais (21).

Alguns estudos chegaram a conclusões diferentes, embora os resultados não sejam tão conclusivos. Num estudo com mais de 1.000 mulheres, os investigadores concluíram que as usuárias de anticoncepcionais hormonais eram estatisticamente mais propensas a relatar funções sexuais negativas, incluindo menos orgasmos e diminuição da excitação. No entanto, é importante referir que os autores não relataram o tamanho das diferenças de resultados quando ajustados para elementos secundários importantes, como idade ou se o participante tinha ou não um parceiro sexual estável, dificultando a análise destas conclusões à luz de outros fatores ( 22).

Fatores externos

Os fatores externos, como os do histórico pessoal ou do parceiro, poderão também influenciar a vida sexual de uma pessoa. Essas influências podem ser diretas ou mediadas por fatores como a depressão ou a saúde geral.

As situações de abuso podem estar associadas negativamente à função sexual, embora isso não seja verdade para todas as mulheres (4, 12, 23, 24). Segundo um estudo, as mulheres que sofreram abuso sexual quando eram crianças tem maior probabilidade de reportar respostas negativas ao discutir a sua sexualidade ou durante a excitação (23). Num outro estudo de mulheres que fazem sexo com mulheres, pelo contrário, não se concluiu que a agressão sexual, independentemente do sexo do agressor, estivesse relacionada com a disfunção sexual, apesar do fato destas mulheres terem 2 a 3 vezes mais probabilidades de terem sido agredidas sexualmente em comparação com as mulheres heterossexuais (24).

A experiência sexual é muito marcada pela outra pessoa

No mesmo estudo de mulheres iranianas, mais de 7 em cada 10 mulheres com disfunção sexual relataram que a causa de sua disfunção estava relacionada com problemas interpessoais com o seu parceiro. E mais de 8 em cada 10 relataram que a sua disfunção era causada pelas capacidades sexuais de seus parceiros (5). Da mesma forma, um estudo de mulheres heterossexuais italianas com disfunção sexual revelou que o interesse do parceiro de uma mulher pode afetar determinantemente a sua sexualidade mais do que qualquer disfunção do parceiro (25). 

Por vezes, as mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) tem experiências sexuais diferentes das que fazem sexo com homens. Um estudo com mais de 1.500 MSM conclui que muitos fatores associados à disfunção sexual como a idade, a diabetes e a menopausa, não estão relacionados com a disfunção sexual (24). As MSM tem diferentes formas de relacionar-se sexualmente quando comparadas com as mulheres que fazem sexo com homens e essas atividades sexuais tendem a ser menos afetadas pelos efeitos colaterais da diabetes ou da menopausa, embora não descartem a possibilidade de que as MSM tenham alguma resposta fisiológica diferente a esses fatores.  Essa ideia ressalta a subjetividade da pesquisa sobre a disfunção sexual e enfatiza que a disfunção sexual não significa necessariamente insatisfação sexual.

Se você não estiver feliz com a sua vida sexual, converse com seu(ua) médico(a). A disfunção sexual é comum e é normal que a vida sexual das pessoas mude ao longo da vida.

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