Huevos en representación metafórica de la vasectomía y de la anticoncepción masculina

Fotografía e direção de arte: Marta Pucci

Tempo de leitura: 7 min

Vasectomia: o que é? Como é feita?

Um relato pessoal sobre optar por um método anticoncepcional masculino.

*Tradução: Jade Augusto Gola

Há pouco tempo meu esposo sugeriu fazer uma vasectomia. Minha primeira reação foi dizer um "não" imediato, até com certo espanto. No entanto, a opção de deixar de tomar a pílula anticoncepcional me pareceu bem tentadora.

Há no mercado vários tipos de anticoncepcionais (de barreira, hormonais, orais, injetáveis, combinados, subcutâneos, intrauterinos, transdérmico, etc.) que, em sua maioria, estão focados no sexo feminino.

Assim como o cuidado dos filhos, a anticoncepção costuma apresentar-se no imaginário social como uma responsabilidade das mulheres.

A decisão de meu companheiro—e minha reação–me levaram a questionamentos, a pensar sobre minha posição e a investigar mais sobre a vasectomia. A virilidade diminui com a cirurgia? Ela provoca aumento de peso? É reversível? O risco de contágio de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) aumenta?

O que é a vasectomia?

A vasectomia é um procedimento cirúrgico em que se realiza a ligadura dos diferentes condutores que levam os espermatozoides desde os testículos até o condutor da urina, a uretra. Os espermatozoides são conduzidos através da uretra ao exterior, no momento da ejaculação.

Com a vasectomia é interrompida a passagem dos espermatozoides. O procedimento pode ser realizado atualmente com incisão ou sem o corte do bisturi, e a internação é ambulatorial já que a anestesia aplicada é local e, dependendo do paciente, pode haver algum procedimento extra de sedação.

Uma breve história da vasectomia

Desde a primeira referência à oclusão (fechamento) de ambos os tubos em 1775, pelo cirurgião e anatomista John Hunter, junto dos experimentos em cachorros feitos por seu discípulo Astley Cooper em 1830, a vasectomia evoluiu e simplificou sua técnica (1).

Durante o século 19 essa era uma prática que não almejava a contracepção–a intervenção pretendia curar os possíveis efeitos adversos de uma adenomectomia (extração de um tipo de tumor benigno). A partir das primeiras décadas do século XX o método começou a ser utilizado para fins contraceptivos. (1)

Como é feita a vasectomia?

Atualmente, a intervenção com bisturi se dá com duas pequenas incisões no escroto e logo elimina-se um pedaço diferente dos condutores de cada lado. Logo, cada incisão é fechada com um ou dois pontos de sutura absorvíveis.

Em 1974 o médico chinês Li Shunquang desenvolveu uma técnica sem bisturi, focada em instrumentos cirúrgicos especiais. Hoje em dia, o profissional de saúde deve realizar apenas:

  • Uma punção pequena para o acesso a ambos condutores,

  • cauterização ou ligadura dos tubos.

O pequeno orifício cicatriza rapidamente, sem sutura e sem cicatrizes. Ambas intervenções duram cerca de 15-20 minutos (2).

Recomendações pós-cirúrgicas

Em caso de intervenção com bisturi, as recomendações são simples:

  • Repouso por 48 horas, sem a realização de esforços bruscos,

  • curativo diário da ferida com solução iodada, por dez dias.

  • usar suspensório genital,

  • evitar relações sexuais.

É importante que o paciente vasectomizado mantenha durante três meses após a intervenção os métodos anticoncepcionais prévios, ou até que o profissional o indique. Logo após esse período realiza-se um espermograma de controle para confirmar que não há espermatozoides no sêmen (3).

Efeitos secundários da vasectomia

Os efeitos secundários são pouco frequentes, raros. Mas como todo procedimento cirúrgico, pode haver complicações, por mais que seja uma pequena intervenção. Por exemplo:

  • Presença de hematomas.

  • Infecção ou dor escrotal crônica.

  • Granuloma (4).

  • Epididimite (4).

  • Síndrome da dor da Cargo-Vasectomia (PVPS) (4).

Nestes casos recomenda-se consultar imediatamente um(a) médico(a).

Mitos sobre a vasectomia

No tangente a supostas diminuição da libido, aumento de peso e perda da virilidade, não se confirmam tais mitos, já que o que se realiza são ligadura dos cordões, e não se tocam nervos. Ou seja, a vasectomia não afeta a libido nem a ereção. O que pode haver é uma diminuição da consistência ou volume do sêmen, o que muitas vezes é imperceptível.

Tais fatos são bons para elucidar dúvidas e diminuir mitos e preconceitos conhecidos sobre a vasectomia.

A vasectomia é 100% reversível?

Existe uma intervenção que une novamente os diferentes condutos, mas a taxa de sucesso costuma ser baixa. Por este motivo, a decisão de reverter a vasectomia deve ser bastante pensada.

Profissionais de saúde têm um importante papel ao prover informação correta e clara para a tranquilidade dos pacientes que, em sua maioria, são homens com vida sexual ativa entre os 40 e 60 anos e com filhos.

Outro ponto relevante a ser considerado é que a vasectomia não evita o contágio de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). O sêmen ainda pode transportar infecções e doenças, ainda que não carregue mais os espermatozoides (5).

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Planejamento familiar e contracepção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende o planejamento familiar como "uma medida sanitária de caráter preventivo, em que há uma dimensão familiar e social destinada a promover um bom desenvolvimento humano. O planejamento permite pensar no número de filhos e no intervalo entre nascimentos" (6).

Alguns dos benefícios do planejamento familiar:

  • Evita gravidezes não desejadas,

  • reduz a mortalidade materna e infantil,

  • diminuiu abortos inseguros,

  • constitui uma maneira de organizar a própria vida e um meio para alcançar a igualdade de gênero (6).

A esterilização masculina é, junto do coito interrompido e da camisinha masculina, uma das poucas possibilidades contraceptivas para o homem, num conjunto de 20 opções anticoncepcionais, segundo a OMS (7).

A vasectomia e o fator cultural: a masculinidade hegemônica

O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas revelou em 2013 que, nos países desenvolvidos, as taxas de esterilização são de 61,3% para a feminina e 38,7% para a vasectomia, enquanto que nos países em desenvolvimento a porcentagem é de 91,7% para a laqueadura e 9,3% para a vasectomia (8).

No papel social da maternidade estabelecido há o mito do "pai provedor", algo que segue até hoje acentuando a divisão sexual do trabalho e confabulando contra a igualdade de gênero. A socióloga Eugenia Zicavo explica como "a construção sociocultural da maternidade e suas práticas associadas estão dentro do marco discursivo do sistema de sexo e gênero; portanto as diferenças sexuais são significadas socialmente" (9). Tal raciocínio serve para refletirmos também sobre o ideal de paternidade.

Nos anos 90, a socióloga Raewylin Connell definiu o conceito de masculinidade hegemônica, a "configuração da prática de gênero que incorpora respostas aceitadas e a legitimidade do patriarcado, o que garante (ou se considera garantida) a posição dominante dos homens e a subordinação das mulheres" (10).

Os mitos sobre a vasectomia são potencializados pelos imaginários que garantem a continuidade da dinâmica de prevalência do patriarcado.

A masculinidade hegemônica se vê ameaçada pela cirurgia já que ela toca em seu bem mais precioso: o falo. Como vimos anteriormente, alguns destes mitos são:

  • Perda da potência sexual e virilidade. Os especialistas já esclareceram que potência e virilidade não são afetadas, já que não há efeitos secundários relacionados.

  • O aumento de peso está relacionado com a castração: a extirpação dos órgãos sexuais (testículos e ovários). Na vasectomia apenas se neutralizam dois condutores diferentes para evitar o transporte dos espermatozoides.

A permanência e popularidade de tais relatos equivocados mostra a importância de políticas de saúde pública que proporcionem informação, esclarecendo dúvidas e afastando medos que acabam por alimentar a ignorância sobre questões de saúde.

Eu fui pessoalmente afetada pela proposta inicial de meu esposo de se submeter a uma vasectomia porque eu assumi, sem refletir, a carga social de ser mulher e mãe e, portanto, a responsabilidade da contracepção na relação. Talvez por isso o exercício mais complexo que tive na investigação e escrita deste artigo foi reconhecer os discursos patriarcais que inexoravelmente me atravessavam: os relatos falaciosos sobre a contracepção masculina como a presunção da perda de virilidade e potência sexual.

Ao fim de minha pesquisa, retomei o tema com meu esposo e concluimos que a vasectomia era a melhor opção anticoncepcional para ambos.

[Leia agora: Por que não há um método contraceptivo para os homens?]

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