Two men with a pack of birth control pills

Foto: Marta Pucci

Tempo de leitura: 6 min

Por que não há anticoncepcionais hormonais para homens?

*Tradução: Mariana Rezende

Principais coisas a saber:

  • Os homens estão se mostrando cada vez mais dispostos a tomar anticoncepcionais hormonais

  • Atualmente, um gel tópico hormonal está sendo testado em ensaios clínicos com humanos

  • Novas opções não hormonais para homens também estão sendo desenvolvidas

No momento, os métodos contraceptivos para homens são limitados a preservativos, abstinência ou vasectomia, cada um deles com taxas variáveis de falha (1, 2). Embora os anticoncepcionais hormonais para homens sejam estudados desde a década de 1970, em 2019 ainda não havia nenhum método disponível comercialmente (3, 4) e é provável que ainda não haja um produto comercialmente disponível tão cedo (4).

De um modo geral, as mulheres assumiram o ônus da contracepção. As pesquisas mostram que as mulheres são responsáveis planejar e executar o uso de métodos contraceptivos em cerca de 60% das vezes em encontros sexuais (5).

Mesmo quando métodos compartilhados como preservativos masculinos estão presentes, as mulheres ainda são desproporcionalmente mais ativas — estudos mostram que em 90% das ocasiões, as mulheres estão envolvidas no gerenciamento de todos os casos de uso de contraceptivos (5).

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A pesquisa sobre esses tópicos usa os termos "homens" e "mulheres", portanto, estamos usando esses termos neste artigo, juntamente com termos como "masculino" e "feminino" em referência a mulheres e homens cisgênero. Não sabemos se pessoas trans e não binárias foram incluídas nessa pesquisa. Mais pesquisas são necessárias sobre métodos de controle de natalidade para pessoas trans e não binárias.

Culturalmente, a tendência é se pensar na contracepção como uma responsabilidade das mulheres — mesmo nos relatórios de pesquisa, o uso (ou falta dele) que a mulher faz dos contraceptivos tende a ser a única narrativa (1) para tentar explicar uma gravidez indesejada. Porém, felizmente, essas opiniões estão mudando. As pesquisas e os homens envolvidos em estudos sobre contraceptivos hormonais em todo o mundo estão demostrando um interesse crescente em métodos de contracepção masculina (3, 6).

Em 2005, um estudo com mais de 9.000 homens em nove países diferentes constatou que 55% dos homens em relacionamentos estáveis estavam dispostos a considerar o uso de anticoncepcionais (7).

O fato de cerca de 50% de todas as gestações em todo o mundo não serem intencionais suscitou o interesse e apoio renovados entre cientistas, formuladores de políticas e agências de financiamento (8, 9) no desenvolvimento de mais opções para anticoncepcionais masculinos. Abaixo, vamos dar uma olhada nas principais formas de controle da natalidade hormonal que foram desenvolvidas para os homens e explorar os desafios de trazê-las ao mercado.

Injeções hormonais

O contraceptivo hormonal masculino é amplamente baseado na supressão da formação de espermatozóides através do uso de um hormônio androgênico, como a testosterona (3). A testosterona pode suprimir a formação natural de espermatozóides do corpo (3), permitindo que se produza sêmen sem espermatozóides ou em um número tão baixo que os espermatozóides produzidos são insuficientes para causar fertilidade (4), um processo chamado azoospermia. A azoospermia reduz o risco de gravidez para cerca de 1% ao ano, a mesma taxa dos anticoncepcionais femininos (3, 10).

Usar a testosterona isoladamente como método contraceptivo tem se mostrado desafiador: quando tomada por via oral em forma de pílula, a testosterona é rapidamente excretada pelo organismo, impedindo que seja confiável na redução do esperma a níveis que diminuam significativamente o risco de gravidez (11). A testosterona injetável não é excretada tão rapidamente pelo organismo, o que permite que ela dure mais tempo, mas pode levar de 3 a 4 meses para que comece a atuar e aumentar os níveis de testosterona no corpo em geral, o que poderia contribuir para a toxicidade hepática (3) a longo prazo.

Pílulas anticoncepcionais orais

Um método de controle da natalidade oral para homens foi desenvolvido combinando testosterona e progestagênio em uma pílula ou unindo uma pílula de progestagênio oral com uma injeção de testosterona (4). A combinação de testosterona e progestagênio forneceu um meio consistente de atingir altas taxas de azoospermia e baixas taxas de gravidez (4).

Um ensaio clínico de 2019 que testou anticoncepcionais orais para homens mostrou resultados promissores de eficácia e segurança com poucos efeitos colaterais (2). Mais pesquisas são necessárias para determinar a eficácia e a segurança a longo prazo dessa nova pílula masculina, que, se bem-sucedida, a tornaria uma nova, conveniente e emocionante opção para os homens.

Géis tópicos

Nos últimos anos, uma nova onda de pesquisas sobre anticoncepcionais hormonais masculinos ressurgiu, levando ao desenvolvimento de um gel tópico que combina progestina e testosterona (13, 2), com taxas confiáveis de azoospermia (13). O medicamento é reversível e os efeitos colaterais (diminuição da libido, aumento do risco de queimaduras solares no local da aplicação, e erupção cutânea seca e escamosa no local da aplicação) foram considerados aceitáveis pela maioria das pessoas no estudo (13, 14).

Mais de 80% das pessoas no estudo disseram que o gel anticoncepcional era aceitável e 50% disseram que estariam dispostos a usá-lo como sua principal forma de controle da natalidade, se disponível (13). Até o momento em que este artigo foi escrito, o tratamento passou em testes de segurança humana e em um ensaio clínico feito com humanos (11, 12).

Esta nova combinação de gel hormonal pode ser o primeiro medicamento considerado como uma alternativa semelhante à pílula anticoncepcional feminina, tanto em termos de reversibilidade quanto em disponibilidade em uma única aplicação, mas provavelmente estará sob testes de medicamentos por anos antes de estar disponível ao público em geral (14).

Opções não hormonais

Novas pesquisas em controle de natalidade masculina estão em andamento. Na China, está sendo desenvolvido um novo método que usa uma injeção de produtos químicos não hormonais para bloquear o canal deferente, o tubo que transporta espermatozóides para o canal ejaculatório. Este é o mesmo tubo que é cortado em uma vasectomia para inibir a motilidade espermática (15), além de inibir diretamente a capacidade do esperma nadar (15).

Conhecida como o "método de coquetel químico", essa forma de anticoncepcional visa ser reversível e limitar os efeitos colaterais, como alterações de humor, libido e peso, documentados em estudos de métodos hormonais (2). Embora os métodos hormonais possam levar de três a quatro meses para se tornarem eficazes, acredita-se que esse método seja eficaz em menos de duas semanas (mas pode levar até 20 semanas) (15). É um novo e empolgante desenvolvimento em contracepção e fertilidade, embora a partir de 2019 só tenha sido testado em ratos (15).

São necessárias mais pesquisas para avaliar a eficácia e a segurança das abordagens hormonais e não hormonais. Ainda assim, um método masculino de controle de natalidade que oferece às pessoas de todos os sexos oportunidades iguais para assumir a responsabilidade pela fertilidade é uma perspectiva interessante. Além disso, a crescente conscientização sobre o fardo desproporcional que as mulheres assumem em se tratando de gravidez e concepção mudará positivamente a conversa cultural para ajudar a trazer um produto ao mercado mais cedo ou mais tarde.

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