Ilustrações por Marta Pucci

Tempo de leitura: 10 min

O impacto do coronavírus no acesso a métodos contraceptivos

O que sabemos sobre acesso a métodos contraceptivos durante a pandemia

*Tradução: Jade Augusto Gola

O SARS-CoV-2 (o novo coronavírus responsável pela COVID-19) causou uma crise de saúde global que está exaurindo sistemas de saúde ao redor do planeta (1, 2). Como resultado, impedimentos na saúde reprodutiva e sexual estão dificultando o acesso a métodos contraceptivos e produtos anticoncepcionais.

Mesmo antes da pandemia, pessoas que fazem uso de anticoncepcionais já enfrentavam obstáculos para consegui-los, incluindo possibilidades financeiras, dificuldade de visitas a médico(as), requerimentos complexos como exames pélvicos e testes de papanicolau e também dificuldades em farmácias (3).

Você provavelmente quer saber mais sobre como essa pandemia impacta a sua escolha de contraceptivo. O acesso a anticoncepcionais pode ou não ter alterações onde você vive, já que regras, regulamentações, produção e importação variam de lugar para lugar. De todo modo, com as medidas de isolamento e confinamento social e preocupações sobre a exposição ao vírus todo mundo está arcando com consequências. Você pode se preocupar sobre como ter acesso ao seu contraceptivo de escolha ao ter que se isolar em casa durante essa pandemia.

Analisemos agora as maneiras como o acesso a métodos contraceptivos mudaram por causa do coronavírus e o que você pode fazer a respeito.

O coronavírus irá limitar o acesso a métodos anticoncepcionais?

As redes de abastecimento de produtos contraceptivos estão sendo impactadas pela pandemia (4). Produtores de materiais de planejamento familiar e saúde reprodutiva já reportaram que o acesso a contraceptivos pode ser limitado nos próximos meses por causa do vírus.

Essa constatação é baseada em alguns fatores, primeiramente pelo fato de que muitas fábricas chinesas que produzem contraceptivos fecharam ou não produziram o volume costumaz durante o pico do surto do vírus na China. Outras questões relativas ao acesso a contraceptivos incluem inventários em seu país, restrições de viagens que podem impactar demandas regulatórias e a falta de contato entre profissionais farmacêuticos e médicos(as). Os tipos específicos de contraceptivos impactados por essas rupturas não são exatamente claros, mas ao que se reporta anticoncepcionais hormonais e preservativos já são impactados (5).

A maneira mais provável com que o surto de COVID-19 irá impactar o acesso a anticoncepcionais será na redução da urgência observada em necessidades contraceptivas.

Alguns provedores de saúde estão remarcando muitas consultas consideradas "não essenciais" ou as encaminhando para consultas de telemedicina, e isso deve incluir consultas que você tenha sobre seu anticoncepcional, entre eles a pílula, a injeção, o anel, o adesivo, o implante e o DIU.

Algumas pessoas podem também deixar de ter acesso a métodos contraceptivos se elas sentem que é inseguro sair de casa durante a quarentena. Em alguns países, serviços de saúde podem receitar e reabastecer seus anticoncepcionais sem a necessidade de uma visita em pessoa, usando consultas eletrônicas ou remotas (6, 7).

Em países sem sistemas de saúde universais (como o SUS brasileiro)—caso dos Estados Unidos, o acesso a anticoncepcionais fica ameaçado também pelo aumento do desemprego durante esta crise do coronavírus. Ficar sem emprego pode acarretar a perda de planos de saúde e também de receita que permitiriam a compra de anticoncepcionais.

Algumas clínicas de saúde reprodutivas de baixo custo foram forçadas a fechar nos EUA durante essa pandemia. Diversos países da África subsaariana e da Ásia relataram o fechamento de serviços de planejamento familiar, criando um vácuo no acesso a contraceptivos. O fechamento de universidades no mundo todo está impactando estudantes que dependem de anticoncepcionais fornecidos por clínicas universitárias.

O coronavírus irá limitar o acesso a serviços legalizados de aborto?

Em muitos países, o acesso ao aborto previsto por lei já é limitado, provido apenas no caso de complicações de saúde, por razões sociais e econômicas ou de risco de vida (um dos poucos casos em que permite-se o aborto no Brasil). A pandemia também pode ter efeitos de longo alcance ao limitar o aborto em muitos países.

Alguns legisladores dos Estados Unidos, onde o aborto é legal, classificaram o aborto como um procedimento "não essencial". Pelo aborto ser uma parte essencial do sistema de saúde e um procedimento sensível ao tempo, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas insistiu que abortos devem ser considerado como "essenciais" (8). A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia sugere que, para aliviar as estruturas dos sistemas de saúde, o aborto deveria ser oferecido através da telemedicina (9), ao prover fácil acesso a receitas de mifepristone e misoprostol (as pílulas do aborto), e ao remover tempos de espera desnecessários (9).

Na Europa, 100 ONGs não governamentais publicaram uma declaração conjunta solicitando a governos europeus o fornecimento de acesso programado e seguro ao aborto durante a pandemia de COVID-19 (10). Alguns hospitais e clínicas europeias provedoras de aborto legal tiveram que fechar as portas ou limitar os serviços durante a pandemia (10).

Como se reabastecer de contraceptivos hormonais durante o coronavírus

A maioria dos países europeus requer uma receita médica para fornecer anticoncepcionais (11). Se você não tem um fornecedor habitual, você pode acessar provedores de telemedicina através de seu smartphone ou de um computador. Leia mais sobre os serviços de telemedicina aqui.

Acesso à pílula anticoncepcional durante o coronavírus

Muitos provedores e serviços de saúde estão sendo encorajados a fornecer pacotes de pílulas com refis ou estoque de até 12 meses (5, 6). Você pode não conseguir uma receita completa para doze meses de uma vez pois alguns planos e seguros de saúde geralmente regulam o fornecimento. Pergunte na farmácia quantos refis você pode comprar de uma vez. Serviços de farmácia por correio, drive-thru ou de entrega deveriam contar com essa possibilidade (6).

Acesso ao adesivo ou anel contraceptivo durante o coronavírus

Do mesmo modo que o fornecimento de pílulas, provedores e serviços de saúde deveriam ser capazes de receitar até 12 meses de adesivos ou anéis durante esta crise. A quantidade que você pode adquirir de uma vez pode ser limitada por seu seguro ou plano de saúde.

Acesso a um novo DIU ou implante durante o coronavírus

Se o seu DIU ou implante está para vencer, você na verdade talvez não precise substitui-los imediatamente (6, 7). Acredita-se que DIUs de cobre, DIUs hormonais de alta dose (52 mg) e implantes sejam efetivos mesmo até dois anos depois de sua data de vencimento (13). DIUs hormonais de baixa dosagem (13.5mg e 19.5mg) necessitam de um método extra de garantia após a data de vencimento, como camisinhas ou pílulas de progestina, mas eles não precisam ser removidos imediatamente após a data de vencimento (6).

Acesso à injeção contraceptiva durante o coronavírus

A injeção contraceptiva geralmente necessita de duas consultas clínicas pessoais. A injeção é aplicada a cada 13 semanas (14, 195). Quem esteja usando injeção contraceptiva agora talvez queira considerar mudar para as pílulas anticoncepcionais de apenas progestina (6). Se você começar a tomar essas pílulas até 14 semanas depois da última injeção, métodos extras de garantia não são necessários (6). Quem se autoaplica a injeção contraceptiva pode pedir a provedores e serviços de saúde recargas e receitas de até 12 meses (6).

Acesso à contracepção de emergência durante o coronavírus

A contracepção de emergência é quando um anticoncepcional é utilizado para prevenir a gravidez após uma relação sexual desprotegida (a "pílula do dia seguinte" é o método mais conhecido). Dependendo de onde você mora, anticoncepcionais de emergência podem ser encontrados em farmácias, sem necessidade de receitas médicas. Mas se você precisa de receita, contate seu(ua) médico(a) ou serviço de saúde imediatamente após a relação sexual desprotegida.

Se você tiver pílulas anticoncepcionais com você, certos tipos de pílulas podem ser usadas para contracepção de emergência, mas você precisa de orientação de um(a) médico(a) sobre como tomar as pílulas para tal situação (14).

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Acesso a camisinhas durante o coronavírus

Se você está em casa de quarentena mas precisa de acesso a métodos de barreira, você pode encomendar na Internet camisinhas, espermicidas e esponjas. Camisinhas masculinas (externas) oferecem a melhor proteção contra gravidez (87-98% de eficácia), não precisam de receitas e são encontradas em muito tipos de estabelecimentos.

Camisinhas internas (femininas) têm 79-95% de eficácia contra gravidez (14). O espermicida tem 79-84% de eficácia e as esponjas previnem a gravidez de 73 a 91% das ocasiões (14). Usar qualquer um dos dois métodos anticoncepcionais irá aumentar a chance de evitar uma gravidez (14).

O que fazer se não consigo acesso a anticoncepcionais durante o coronavírus

Se os métodos contraceptivos se tornarem muito difíceis de serem acessados durante essa pandemia, você tem algumas outras opções para previnir a gravidez. Tenham em mente que apenas as camisinhas são a única proteção também contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Usar um anticoncepcional junto da camisinha é a maneira mais efetiva de proteção contra gravidez e ISTs (14).

  • Métodos de barreira como camisinhas, espermicidas e esponjas reduzem o risco de gravidez (14).

  • Métodos de monitoramento da fertilidade, como a famosa "tabelinha", funcionam ao prever a ovulação e com a consequente abstinência sexual nestes dias de maior risco de gravidez (15).

  • A "retirada" (coito interrompido), quando um parceiro sexual remove o pênis antes da ejaculação, pode reduzir o risco de gravidez (16).

Contraceptivos hormonais previnem a gravidez, mas muita gente os usam também por causa de outros benefícios. Em muitos casos, os contraceptivos hormonais podem melhorar acne, dores menstruais e transtornos de humor, além de regular sangramentos (14). Quando alguém para de usar um método contraceptivo hormonal, alguns desses sintomas relacionados ao ciclo menstrual podem retornar. Você pode registrar e monitorar no Clue app mudanças nas suas emoções, sintomas e sensações.

Pessoas em todo o planeta estão lidando com incertezas por causa dessa pandemia.

O impacto no acesso a anticoncepcionais e ao aborto significa que pessoas que precisam de anticoncepcionais serão desproporcionalmente afetadas por essa pandemia. Organizações mundo afora estão trabalhando para oferecer esses serviços remotamente.

Esperamos que seu acesso a métodos contraceptivos não seja interrompido pelo coronavírus, mas se for o caso você pode encontrar no Clue mais informação sobre como mudar de método anticoncepcional ou usar métodos de monitoramento da fertilidade em casa. Você também encontra mais informações em nosso Instagram e Twitter, ambos em português.

Se você está sofrendo com violência doméstica:

Devido às medidas de isolamento social, pessoas mundo afora estão tendo que passar muito mais tempo em casa. O confinamento está aumentando os casos de violência doméstica: São Paulo e Rio de Janeiro, as duas maiores cidades brasileiras, já registraram aumento significativo de casos de agressões e morte violenta em casa durante a quarentena do coronavírus. Em Portugal, o governo se prepara para o aumento dos casos com leitos para acolher vítimas de violência e canais extras para denúncia e apoio. O suporte é estendido à comunidade LGBTQIA vulnerável neste momento.

Se o isolamento social está fazendo com que você possa sofrer ou sofra situações de violência, por favor contate algum dos serviços abaixo para informação e proteção.

BRASIL

  • Polícia Militar - Telefone 190

  • Central de Atendimento à Mulher - Telefone 180

  • Delegacias da Mulher (consulte o mapa nacional feito pelo portal AzMina)

  • Direitos Humanos app (baixe aqui)

PORTUGAL

  • Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV - Telefone 21 358 7900)

  • União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR - Telefone 218 873 005)

  • Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género - Telefone 800 202 148 / violencia.covid@cig.gov.pt

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