Ilustração: Marta Pucci

Tempo de leitura: 6 min

O que você talvez não saiba sobre ovulação: mitos e dúvidas frequentes

*Tradução: Sarah Luisa Santos

A liberação mensal do óvulo pelo ovário é um processo fascinante. É algo que as pessoas buscam entender a fundo quando querem engravidar. Mas aprender sobre ovulação pode te ajudar mesmo que você não esteja tentando conceber, já que a ovulação afeta o seu corpo e o seu cérebro de formas que você nem imagina.

Primeiro, leia nosso artigo introdutório sobre ovulação para as informações básicas sobre o tema. Depois de ler como tudo funciona, você é hora de se aprofundar nos mitos e dúvidas frequentes sobre os quais falaremos abaixo.

Posso ovular duas vezes no mesmo ciclo?

Não. Apenas uma ovulação pode acontecer por ciclo menstrual. Você pode, no entanto, ovular dois (ou mais) óvulos ao mesmo tempo. Quando isso acontece, existe a possibilidade de se conceber gêmeos fraternos (não-idênticos) se ambos os óvulos forem fertilizados. Mas acontecer de haver óvulos separados e liberados em momentos diferentes no mesmo ciclo, isso não ocorre.

Um gráfico que mostra as mudanças dos níveis de hormônio em um ciclo médio ao longo do tempo

Uma vez que você ovulou, seu folículo vazio se transforma em um corpus luteum. Esse corpus luteum é responsável por assegurar que outra ovulação não aconteça (entre outras coisas). Ele começa bombeando progesterona, assim como estrogênio e um hormônio chamado inibina. A concentração desses três hormônios dá uma resposta negativa ao eixo hipopituitário (HPA), que inibe a liberação de outros três hormônios: hormônio estimulante gonadal, hormônio folículo-estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). Ao suprimir a liberação destes hormônios, os folículos não vão desenvolver a ponto de ficarem prontos para liberar outro óvulo (1).

Tomar certos remédios como analgésicos, ibuprofeno ou aspirina pode cessar a ovulação?

AINEs (anti-inflamatórios não esteroides) são um grupo de medicamentos usados para tratar dor e diminuir a febre e inflamação. AINEs são usados com frequência para dores de cabeça, resfriados, cólicas menstruais e artrite. AINEs têm muitos tipos e nomes diferentes, alguns NSAIDS comuns são a aspirina e o ibuprofeno.

Esses medicamentos funcionam ao parar a ação do grupo de enzimas chamadas ciclo-oxigenase 1 e 2 (COX-1 e COX-2) (2). Essas enzimas em particular são relacionadas à ovulação porque elas estão envolvidas em produzir prostaglandinas (a mesma composição hormonal responsável pela sua menstruação). Durante a ovulação, as prostaglandinas também são envolvidas na resposta inflamatória necessária para o seu folículo liberar o óvulo. Se o folículo não libera o óvulo, a ovulação não pode ocorrer (2).

Ilustração de um conjunto de diferentes pílulas coloridas

Em 2015, um estudo anunciou uma baixa dramática na ovulação em mulheres que estavam tomando esse anti-inflamatórios em doses que precisariam de prescrição médica, na maioria dos casos (3). Nesta pesquisa, 39 mulheres em idade fértil que sofriam de dor nas costas tiveram um dos três tratamentos diferentes com AINEs, começando no décimo dia de seu ciclo menstrual (essa é a fase folicular, antes da ovulação) (3,4).

Os anti-inflamatórios AINEs usados neste estudo em dose diária foram o diclofenaco (100mg diárias), naproxen (500mg duas vezes ao dia), etoricoxib 90 mg. Na maioria dos países, estes medicamentos e suas doses precisariam de prescrição médica para serem receitados para dor e dor crônica.

Embora esses AINEs sejam da mesma família, os resultados do estudo não devem ser comparados quando você toma uma única dose de ibuprofeno de vez em quando. Esses são medicamentos fortes que precisam de prescrição médica e com fortes contra-indicações (para quem tem uma gravidez, úlceras ou doenças do fígado) e efeitos colaterais como (e não só) trombose cardiovascular e hemorragia gastrointestinal (5,6,7).

Depois de 10 dias consecutivos do tratamento com AINEs, os hormônios e a saúde folicular das pacientes foram estudados. Muitas das mulheres tomando os anti-inflamatórios AINEs não ovularam – elas não liberaram um óvulo, em comparação às mulheres tomando o placebo (3). Quando os AINEs foram removidos, os efeitos foram reversos, e a ovulação ocorreu normalmente no mês seguinte (3,4).

Outros pesquisadores também notaram esses resultados em ratos e coelhos desde os anos 80 (2). Outro estudo recente com foco na fertilidade e usuários de NSAIDs descobriu que mulheres com artrite reumatoide tomando o NSAIDs inexplicavelmente demoraram mais para ficarem grávidas, se comparadas com as pessoas com AR que não estavam tomando NSAIDs. Essa informação também sugere que existe uma conexão entre concepção e o uso de NSAID (8).

Cientistas suspeitam que essas investigações científicas possam ser úteis para as concepções de emergência num futuro próximo. Mas mais pesquisas seguem necessárias aqui (4).

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Imagem padrão

Podemos regenerar nossos óvulos? É possível que novos óvulos sejam criados depois que nascemos?

O dogma científico mais comum sobre o "relógio biológico" feminino é que as mulheres nascem com todos os óvulos que terão. Esses lentamente vão se expirando à medida que movemos do nascimento até a menopausa – com alguns óvulos sortudos que são liberados durante a ovulação. Essa noção, no entanto, foi desafiada pelos pesquisadores ao longo da última década.  

Em 2014, uma série de experimentos demonstraram a inconsistência entre o número de oócitos (células imaturas de óvulos) disponíveis em um ovário de um rato no seu nascimento, em comparação com a quantidade da decomposição do folículo (células em desenvolvimento do óvulo) acontecendo ao longo da vida do rato. Havia um desequilíbrio matemático – mais folículos estavam morrendo do que originalmente disponíveis no nascimento. Isso sugeriu que as células oócitas estavam sendo regeneradas depois do nascimento (9).

Ilustração de células humanas e óvulos no tecido do ovário

Outro estudo revelou que as células germinativas (células que podem gerar novos óvulos) em ovários humanos poderiam ser identificadas e extraídas. Essas células germinativas extraídas geraram novas células de óvulos em um laboratório, e também geraram células imaturas de óvulos quando injetadas no tecido ovariano humano enxertado em um rato de laboratório (10).

Até agora, nenhum nascimento humano ou concepção foram atribuídos diretamente às células germinativas, mas outros avanços em tratamentos de fertilidade estão sendo feitos. Cientistas estão injetando a mitocôndria destas células em células mais velhas de óvulos, para promover um aumento em produção de energia celular, o que ajudou a aumentar a fertilidade em até 30% (11).

Um estudo de 2016 também demonstrou a regeneração de células germinativas em ovários humanos, em pessoas sendo tratadas com medicamentos de câncer para linfoma de Hodgkin. Participantes tomando um coquetel quimioterapêutico tinham maior densidade folicular (mais folículos) nos seus ovários do que participantes que não tomavam tal medicação. Quando esses folículos preliminares tratados com quimioterapia foram retirados dos ovários, eles não se desenvolveram tão bem no laboratório em comparação com as células de ovários não tratados (12).

Essas novidades das pesquisas científicas ainda estão em fase inicial. Há bastante criticismo, desafios e problemas com a reprodução destes experimentos sobre células germinativas regenerativa – mais pesquisas são necessárias.

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