Ilustração: Marta Pucci

Tempo de leitura: 9 min

O que é realmente um aborto?

As diferentes maneiras pelas quais uma gravidez pode terminar e exemplos reais que demonstram que uma gravidez segura requer acesso à assistência ao aborto.

Principais coisas a saber sobre o que define um aborto

  • O aborto é uma forma comum e segura em que muitas gestações terminam.

  • O aborto pode ser concluído com um procedimento simples, medicamentoso ou uma combinação de ambos.

  • Qualquer motivo pelo qual você não queira mais gestar é um motivo válido para optar por um aborto.

  • A gravidez termina em aborto para muitas pessoas com gestações desejadas e indesejadas.

O aborto é comum, seguro, efetivo e pode salvar vidas (1, 2). Como ginecologista obstetra certificada que cuida de todas as pessoas grávidas, independentemente dos resultados da gravidez, essa é a coisa mais importante que posso dizer a qualquer pessoa sobre o abortamento. Se você está pensando em fazer um aborto, ou já fez um aborto, você não está só. Cerca de uma em cada quatro mulheres* nos Estados Unidos fará pelo menos um aborto (3) e muitas pessoas que abortam já têm filhos (4).

Mas, o que é exatamente considerado um aborto? Bom, parece que não é muito fácil de definir. Embora diferentes governos possam ter definições legais específicas para aborto, aborto espontâneo e gravidez ectópica, é importante entender que essas definições não refletem a complexidade e a realidade da gravidez. E embora não haja uma definição médica de aborto acordada (1, 5-7), este artigo explicará o que pode ser considerado um aborto, como o aborto é semelhante ou diferente de outros términos de uma gravidez, por que essas definições são importantes, por que as pessoas escolhem fazer um aborto, e o que fazer se você precisar de um aborto.

Esclarecimentos importantes sobre algumas maneiras pelas quais a gravidez pode terminar

Antes de discutirmos os tipos de aborto, é importante conhecer alguns termos médicos comuns.

Aborto induzido

  • Aborto induzido é o que normalmente queremos dizer quando dizemos "aborto". O aborto induzido é a interrupção intencional de uma gravidez, por meio de um procedimento, medicamentos ou uma combinação de ambos (5).

  • Termos como "aborto eletivo" ou "aborto terapêutico" são estigmatizantes, medicamente imprecisos e não devem mais ser usados.

Aborto espontâneo

  • O aborto espontâneo é quando a gravidez termina ou começa a se expelir do útero espontaneamente, geralmente antes das 20 semanas de gestação (8).

  • O aborto espontâneo também é chamado de perda precoce da gravidez. A perda da gravidez após 20 semanas é comumente referida como natimorto (9).

Gravidez ectópica

  • Uma gravidez ectópica é uma gestação que cresce fora do útero ou em um local atípico dentro do útero. Alguns locais de gravidez ectópica podem incluir: trompa de Falópio, ovário, colo do útero, cicatriz de cesariana prévia, cornos uterinos, músculo uterino, cavidade abdominal ou até mesmo o fígado (10-15).

Por que essas definições são importantes?

À medida que o acesso ao aborto induzido se torna mais restrito, a compreensão da sobreposição entre aborto, aborto espontâneo e gravidez ectópica torna-se cada vez mais importante.

As proibições ao aborto fundamentalmente colocam em risco todas as pessoas grávidas, independentemente de quererem ou não um aborto, porque as proibições ao aborto também restringem o atendimento a pessoas que sofrem aborto espontâneo e gravidez ectópica (23).

Quais são os tipos diferentes de aborto?

Aborto cirúrgico

O aborto cirúrgico também é conhecido como aborto por aspiração, aspiração uterina, aborto por sucção, aspiração a vácuo, dilatação e curetagem (D&C), dilatação e evacuação (D&E) ou dilatação e extração intacta (D&X). Definido de forma simples, o aborto cirúrgico é quando instrumentos cirúrgicos são usados para remover o tecido gestacional do útero através do colo do útero (16). Não há corte ou incisão com aborto cirúrgico e você não precisará de pontos depois. Os mesmos procedimentos que são usados para aborto induzido também são usados para aborto espontâneo e natimorto.

Aborto por aspiração (D&C, aborto por sucção, aspiração a vácuo, aspiração uterina)

  • A maioria dos abortos por aspiração são feitos usando apenas sucção suave para remover a gestação, geralmente de 14 a 16 semanas (16).

  • Embora um aborto usando apenas sucção deva ser chamado de aborto por aspiração, aspiração a vácuo, aspiração uterina ou aborto por sucção, muitas pessoas ainda se referem ao procedimento como dilatação e curetagem, ou D&C.

    • Tecnicamente, dilatação e curetagem é quando se faz uso da cureta, com ou sem sucção (17). Uma cureta é um pequeno instrumento em forma de colher que raspa o revestimento endometrial (revestimento do útero).

    • Na prática, a dilatação e curetagem só deve ser usada em um útero não grávido quando uma amostra do endométrio for necessária para biópsia, e a aspiração a vácuo sem curetagem deve ser usada para o aborto (17–19).

    • O aborto por aspiração pode ser concluído com segurança com um aspirador manual a vácuo (AMV) ou uma máquina elétrica de vácuo (20).

Dilatação e evacuação

  • Após cerca de 14 a 16 semanas, pequenos fórceps, além da sucção, são usados para remover a gestação em um procedimento chamado dilatação e evacuação, ou D&E (21).

Aborto medicamentoso

O aborto medicamentoso ocorre quando medicamentos, em vez de instrumentos, são usados para expulsar a gravidez do útero (21). Não existe um único tipo de aborto medicamentoso, mas sim vários medicamentos diferentes que podem ser tomados de muitas maneiras diferentes para a realização de um aborto medicamentoso. Embora o aborto medicamentoso seja normalmente prestado até 11 a 12 semanas, diferentes protocolos de aborto medicamentoso podem ser usados durante a gestação.

Alguns métodos de aborto medicamentoso incluem (21, 22):

  • Mifepristona com misoprostol

  • Somente misoprostol, tomado em doses múltiplas

  • Metotrexato com misoprostol (menos eficaz)

  • Ocitocina (geralmente reservada para aborto tardio)

Exemplos reais de abortos

As proibições ao aborto dependem de definições legais e políticas, que não refletem o que realmente pode acontecer na gravidez. Abaixo estão alguns exemplos de cenários em que uma proibição ao aborto (induzido) também pode restringir a assistência ao aborto espontâneo ou à gravidez ectópica. Esses cenários reais ressaltam que a gravidez segura também requer acesso à assistência ao aborto.

Aborto espontâneo e sangramento intenso quando ainda há atividade cardíaca

Uma pessoa está grávida de 9 semanas, o colo do útero está aberto e ela está tendo sangramento intenso com cólicas. Um ultrassom mostra que a gravidez ainda tem atividade cardíaca. Essa pessoa está nos estágios iniciais de um aborto espontâneo e, devido ao sangramento intenso, solicita um aborto cirúrgico para tratar o aborto espontâneo em andamento. No entanto, a pessoa vive em um estado onde o governo define o aborto espontâneo estritamente como uma gravidez sem atividade cardíaca e o aborto é proibido após a detecção da atividade cardíaca. Mesmo que essa pessoa esteja tendo um aborto espontâneo com sangramento intenso, a realização de um aborto cirúrgico pode ser negada até que não haja mais batimentos cardíacos. A espera resulta em mais sangramento e a pessoa precisará receber uma transfusão de sangue.

Resultado: embora essa pessoa estivesse sofrendo um aborto espontâneo, a proibição do aborto resultou na recusa de assistência e transfusão de sangue em tempo hábil.

Gravidez ectópica em locais sem definição precisa

Uma pessoa está grávida de 14 semanas com histórico de duas cesarianas anteriores. No primeiro ultrassom, nota-se que a gravidez está implantada na cicatriz da cesariana anterior. Esse fenômeno é diagnosticado como uma gravidez ectópica na cicatriz da cesariana. A pessoa solicita tratamento precoce para salvar sua vida e evitar que ela precise de uma histerectomia (remoção do útero). Ela vive em um estado onde a gravidez ectópica não é definida com precisão e o aborto induzido é ilegal. O tratamento para a gravidez ectópica é recusado e a pessoa é forçada a continuar a gestação. Com 28 semanas, a gravidez em crescimento rompe a cicatriz anterior e a pessoa é submetida a uma cirurgia de emergência.

Resultado: embora essa pessoa estivesse passando por uma gravidez ectópica, a proibição do aborto resultou em natimorto, transfusão de sangue, remoção do útero e lesão permanente na bexiga.

Aborto espontâneo em andamento

Uma pessoa está grávida de 17 semanas e chega ao hospital com escape de líquidos. Um ultrassom e um exame mostram que o saco amniótico (bolsa de água ao redor do feto) se rompeu, mas a gravidez ainda tem batimentos cardíacos. Esse processo é diagnosticado como ruptura prematura das membranas ou aborto espontâneo em andamento. A pessoa solicita tratamento para prevenir uma infecção e salvar sua vida. A pessoa vive em um estado onde o governo define o aborto espontâneo estritamente como uma gravidez sem atividade cardíaca e o aborto é proibido após a detecção da atividade cardíaca. A pessoa não recebe tratamento para a perda da gravidez e é orientada a ir para casa e retornar quando tiver febre ou até que os batimentos cardíacos não sejam mais detectados. A pessoa retorna uma semana depois em choque séptico e morre apesar do tratamento de emergência.

Resultado: embora essa pessoa estivesse sofrendo um aborto espontâneo, a proibição do aborto resultou em sua morte.

Quais são os motivos pelos quais as pessoas podem optar por um aborto?

Embora esta pareça uma pergunta complexa com muitas respostas possíveis, pela minha experiência médica, o motivo mais importante para optar por fazer um aborto é muito simples. O aborto é uma boa opção caso você não queira mais gestar.

Os motivos pelos quais você pode não querer mais gestar podem ou não ser mais complexos, mas são exclusivos para você e sua vida. Talvez não seja o momento certo em sua vida para uma gestação: você acabou de começar um novo emprego, está terminando a escola ou qualquer outro motivo pela qual a gravidez não é boa para você agora. Talvez fosse a hora certa, mas agora as circunstâncias da sua vida mudaram no meio da gravidez: você perdeu sua casa, terminou seu relacionamento, perdeu seu emprego ou seu sistema de apoio falhou. Talvez você tenha desenvolvido uma condição médica séria. Talvez sua gravidez anterior tenha sido traumática. Talvez você só não queira essa gestação.

Como médica, não é meu papel julgar ou analisar esses motivos. Só você sabe o que é melhor para sua vida. Meu papel como profissional de saúde é descrever suas opções sem preconceitos, discutir quaisquer riscos possíveis e oferecer todas as informações que puder para ajudar você a tomar a melhor decisão possível. Por fim, qualquer motivo pelo qual você sinta que não quer mais gestar é um motivo válido para optar por um aborto.

*Reconhecemos que o aborto não é exclusivo para pessoas que se identificam como mulheres. No entanto, a pesquisa e os dados referenciados neste artigo estudaram "mulheres" e não incluíram todas as pessoas que fazem aborto.

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