Ilustração por Marta Pucci

Tempo de leitura: 7 min

Como falar sobre camisinha e outros métodos contraceptivos na hora do sexo?

No Brasil, Chile, Costa Rica e República Dominicana 26% a 28% das mulheres tomam sozinhas a decisão de usar camisinha com seus parceiros quando não estão menstruadas, uma porcentagem relativamente maior que o resto do globo (1).

Enquanto no resto do mundo, de acordo com a pesquisa, ¾ dos casais decidem juntos sobre o uso da camisinha, no Brasil vemos que a decisão de se proteger na hora do sexo geralmente acaba, na maioria das vezes, recaindo sobre a mulher (1). Estes são dados de uma pesquisa realizada pelo Clue app junto do Instituto de Pesquisa Kinsey sobre camisinha, sexo e menstruação (1).

É irônico pensar que a pílula anticoncepcional, antes símbolo da liberdade sexual e empoderamento feminino, acabou se tornando ainda mais um peso sobre as mulheres na hora de prevenir uma gravidez indesejada. E vale lembrar, a pílula não protege contra DSTs.

O Brasil, apesar de ter avançado muito na luta pela igualdade entre gêneros, dentro de quatro paredes parece que a história é outra.

Nós conversamos com várias pessoas no Brasil para saber como elas se previnem na hora do sexo e quais são suas dificuldades em relação à isso.

Julie Krauniski, relações públicas, 32, conta como os meios de proteção são geralmente ignorados pelos parceiros, “Nunca conheci nenhum homem que fizesse questão de usar camisinha na hora do sexo, muito pelo contrário”.

Sanni, cantora e DJ, 29, também divide sua frustração com essa questão, especialmente por ser uma mulher transgênero. “Já transei com caras que não sabiam que eu era trans e simplesmente supunham que eu tomava a pílula antes de transar sem camisinha... E, quando rolava de conversar sobre o assunto… Enfim, tristeza.”

O debate sobre qual método contraceptivo usar, e sobre quem deve iniciar essa conversa é ainda repleto de shaming (vergonha) e, infelizmente, de machismo.

Gabriela Silva, professora de inglês, 33, concorda. “A mulher é muito mais cobrada que o homem, não tenho dúvida. E acredito que sejam vários os motivos, mas a questão do machismo é bem forte. Acho que ainda exista aquela crença de que a mulher é responsável pela sua "castidade" e, caso seja sexualmente ativa, ela que cuide de sua proteção (tanto na hora de prevenir uma gravidez quanto contra doenças sexualmente transmissíveis)”.

De acordo com os depoimentos acima, a decisão sobre usar camisinha ou não acaba sendo da mulher. Mas isso ocorre não de uma forma igualitária, fruto de uma discussão a dois, mas sim por conta de um descaso (ou seria irresponsabilidade?) dos parceiros que, por sua vez, preferem não usar nenhum preservativo e ainda tentam impor essa decisão de maneiras nada legais às suas parceiras, como omitindo a questão na hora do sexo ou, se for o caso, eles usam a camisinha só se elas exigirem, para não correr o risco de “perder a transa”.

A youtuber Jout Jout, famosa por seus vídeos com questões feministas, mostrou ainda um outro lado deste embate, que seria o total controle masculino sobre o uso da camisinha. Neste vídeo, ela conta como durante o Carnaval teve uma situação infelizmente nada inusitada, onde alguns meninos estavam distribuindo camisinhas somente para meninos, e não para meninas. Puro machismo? E, se o homem tem a camisinha, a decisão fica com ele de usar ou não? E, por que anular por completo o poder de decisão da mulher simplesmente não dando acesso ao preservativo?

Sanni contou que muitas vezes sua opinião é simplesmente desconsiderada, tanto na hora da transa quanto na hora de se relacionar. ”Eu nunca tive um debate aberto sobre contracepção ou adoção que seja (já que eu não posso engravidar). Nunca cheguei tão longe em um relacionamento heterossexual, eles sempre me abandonam depois de poucas transas (às vezes uma) por eu ser trans”.

Afinal, é possível existir uma comunicação mais clara e aberta entre ambas as partes na hora do sexo?

Parece que sim.

Beatriz Macuco, programadora, 34, concorda plenamente com a divisão da responsabilidade “Acho que o casal deve fazer essa escolha junto. Ninguém deve influenciar a ponto de obrigar a parceira(o) a fazer algo que não queira, a situação deve ser discutida e resolvida de maneira que a escolha final seja adequada para as duas partes. Essa abordagem deve ser feita de maneira direta, pois o assunto é muito importante e não deve ser transformado em tabu”.

Exato. Contracepção e proteção na hora do sexo não devem ser transformadas em tabu, especialmente porque a saúde da mulher entra em cheque quando o assunto é a contracepção hormonal.

Julie nos contou que está há 3 anos sem tomar nenhuma pílula anticoncepcional, e desde que parou teve diversos problemas de saúde relacionados à isso. “Parei de tomar há cerca de 3 anos e foi uma tragédia. Tive vários problemas de saúde que acredito estarem ligados a essa interrupção”. Outro exemplo de como a pílula pode não fazer bem vem de Beatriz, que também afirmou que uma das primeiras pílulas que tomou era “muito forte e me deixava sensível e enjoada”, mas finalmente achou uma com que se deu bem, a Yasmin.

Métodos hormonais de contracepção de fato são eficientes na hora de prevenir uma gravidez indesejada (2), mas existem também outras formas de contracepção que não utilizam hormônios, como DIU, diafragma e até mesmo a camisinha feminina, que inclusive previne doenças sexualmente transmissíveis.

Julie, ainda pensando sobre o uso da pílula, se questiona: “por que é a mulher que tem de tomar pílula, que pode fazer mal para sua saúde, e não o homem? Acho que esse tipo de contracepção deveria existir para os dois. Se ela existe, está muito pouco divulgada”.

Seria ainda mais um agravante a falta de mais métodos contraceptivos masculinos? A vasectomia é uma prática relativamente comum, mas pode ser não reversível, além de ser um procedimento cirúrgico e de risco. Outro método que agora está fase de testes é o “gel contraceptivo masculino”, mas ainda longe de chegar nas prateleiras das farmácias. De qualquer forma, apesar desses métodos evitarem uma possível gravidez, não protegem contra DSTs, esta tarefa ainda fica a cargo da camisinha.

E como falar de camisinha de uma forma natural e sem neuroses e machismos?

“O cenário ideal seria esse, de educação sexual nas escolas onde as crianças de todos os gêneros aprendem desde cedo que tudo nessa vida envolve responsabilidade, principalmente quando algo diz respeito ao nosso corpo e aos nossos quereres. Enquanto isso, no curto prazo, a solução que vejo para este embate é a mulherada se impor cada vez mais e não aceitar não usar proteção, ou usar um método que não seja prejudicial para elas”, sugere Gabriela.

“Acho que a situação ideal seria ter uma oferta de métodos contraceptivos para ambos os sexos. Depois vem a educação da população sobre como utilizar. Mas já que o mercado não deve mudar tão cedo, os homens deveriam sempre fazer questão da camisinha e – se tratando de outros métodos contraceptivos – se conscientizarem de que as mulheres sabem o que é melhor para elas. Neste caso, eles deveriam reduzir suas opiniões à compreensão e apoio”, Julie.

“Em um cenário ideal, o casal deve abordar essa questão conversando sempre que necessário, pois a decisão depende da fase do relacionamento e do que o casal quer no momento. E o resultado deve ser sempre algo que seja justo para os dois, e que leve em conta as necessidades ou impedimentos (possíveis alergias, mal estar, etc.) de ambas as partes”, Beatriz.

“Meninos, simplesmente usem camisinha!”, diz Sanni.

E você, já teve algum embate na hora de se prevenir ao fazer sexo? Alguma situação complicada? Como resolveu? Conte para nós via Twitter ou Instagram.

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*O Clue preza pela neutralidade de gênero: falamos de menstruação a partir de um esforço inclusivo - leia e saiba mais.

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