Três pessoas se abraçando

Ilustração: Marta Pucci

Tempo de leitura: 11 min

Como é ter uma infecção sexualmente transmissível (IST)

Ter uma IST é uma experiência comum e variada. Coletamos relatos sobre ISTs nas redes sociais.

*Tradução: Sarah Luisa Santos

Piolho púbico (chato): “Eu fiquei muito chocada”

Eu achei um piolho púbico na minha barriga. Fiquei horrorizada, entrei em pânico porque odeio insetos e meu instinto foi correr para minha mãe, que estava em casa. Eu raspei todo o pelo do meu corpo. O pensamento de ter um inseto no meu corpo não me agrada. Eu procurei online por um tratamento e comprei o xampu recomendado. O choque houve porque eu realmente não esperava por isso. Sempre uso proteção, mas, isso é algo que não pode ser prevenido. Eu fiquei com vergonha de mim mesma. Mas, percebi que era muito comum e não tinha nada do que me envergonhar. – Anônimo

Clamídia: “Não tive nenhum sintoma”

Eu tive relações sexuais com minha melhor amiga e ela descobriu que tinha clamídia, então eu fui fazer o teste junto com outras pessoas com quem também dormimos junto. O tratamento não funcionou de primeira, então tive que tratar uma segunda vez. O namorado que eu tinha na época em que fui diagnosticada terminou comigo... provavelmente porque isso foi com uma mulher... eu falei para ele que não queria dormir com ele enquanto não tivesse curada... e sua resposta foi a melhor que eu poderia esperar. Eu estava com muita vergonha de contar para minha família, mas dividi isso entre amigos. Nós todos fomos fazer o teste juntos e depois fomos fazer compras.

Eu achei incrivelmente difícil contar para o meu namorado naquela época, já que nossa relação não era a das melhores até então, e pensei que se a gente terminasse ele iria contar para todo mundo que conhecemos na universidade. O processo de ser diagnosticada não é tão ruim quanto você pensa. Eu mesma colhi o cotonete no banheiro da clínica e tive uma boa conversa com a enfermeira. Eu não tinha nenhum sintoma. Se não fosse pela minha amiga me dizer, eu nem saberia que tinha algo de errado comigo. Sempre conte para as pessoas com quem você dormiu, não importa o quão vergonhoso, já que o impacto de uma IST piora com o tempo. – Anônimo

Herpes, HPV e clamídia: “Nós éramos monogâmicos”

Eu fui diagnosticada com clamídia em 2015, com em HPV e Herpes 2 em 2018. Minhas três experiências foram bem difíceis. Eu contraí clamídia de um parceiro infiel com quem estive por 2 anos. Porque nós éramos “monogâmicos”, eu não tinha razão para suspeitar de uma IST. Eu não tinha sintomas e só fui diagnosticada quando eles fizeram um teste de IST no meu exame vaginal anual. Quando contraí HPV tive uma verruga genital e fui para uma clínica estudantil que não precisava de seguro de saúde. Meus pais, cristãos, são muito rigorosos e eu tinha medo de que eles me deserdassem se soubessem que eu transei. O médico inicialmente disse que eu tinha câncer, e foi só até eu ter uma consulta em uma clínica local de planejamento familiar que percebi que o HPV não era tão preocupante assim. 

Quando eu contraí herpes foi o pior. Eu estava em um relacionamento monogâmico e pensei que estava sendo responsável. Nós dois fizemos os testes para ISTs antes de decidir fazer sexo sem proteção. Ele não me disse que já tinha sido exposto a herpes antes. Dois dias depois de a gente ter feito sexo sem proteção, eu fiquei bem doente, com sintomas de gripe que duraram quase um mês. E então, eu tive sintomas que atribuí a uma infeção por fungos (coceira, corrimento), e eventualmente tive um machucado doloroso perto da entrada da minha vagina. Eu pensei que isso fosse de coçar muito. Fui em três médicos por causa da infecção, e dois para os sintomas de gripe, antes de uma médica finalmente olhar para minha vagina. Ela reconheceu imediatamente as lesões e fez um exame com o cotonete, que foi tão doloroso que eu gritei. Isso foi numa quinta-feira e no fim de semana eu tive febre e tanta dor que eu não podia nem andar. Eu pensei que estivesse morrendo., tive que dizer aos meus pais porque eu moro sozinha e não tinha ninguém para cuidar de mim, e eu não conseguia cuidar de mim mesma. Eles me apoiaram de forma surpreendentemente. Assim que eu comecei a medicação, meus sintomas melhoraram e agora eu tomo uma dose diária para prevenir uma crise.” – Anônimo, mulher, 21

Clamídia: “O sexo ficou bem doloroso”

O sexo com meu marido de repente começou a doer, e eu sofri por meses porque pensei que tinha algo de errado comigo. Meu marido começou a ter sintomas, então nós dois fomos fazer testes. Ele descobriu que tinha clamídia e me disse, portanto eu não fiquei surpresa com o meu diagnóstico. Ele teve duas semanas de antibióticos e eu três. Embora nós tivéssemos feito o tratamento meses atrás, eu ainda tenho um corrimento estranho, dor durante o sexo e quando uso absorventes internos. Isso afetou a relação que tenho com o meu marido porque eu ainda sofro com os sintomas. Não afetou a confiança que temos entre nós por causa da natureza de nosso relacionamento. Eu fiquei surpresa que meu marido não sabia que poderia contrair IST de sexo oral. Eu acho também que precisamos falar mais sobre corrimentos. Meu corrimento de repente mudou e eu não consegui achar mais informação sobre o que tenho, a não ser perguntas não respondidas em fóruns por outras mulheres" – Anônimo

Gonorreia e clamídia: “Meus exames de sangue vieram negativos”

Eu tinha que fazer um teste mandatório de urina para um exame médico e logo recebi uma ligação uns dias depois dizendo que eu tinha que voltar ao consultório. O médico me disse que eles acharam clamídia e gonorreia na minha urina. Eu fui tratada imediatamente (injeção e uma pílula). Eu não tinha um parceiro na época, mas meu parceiro anterior me disse que ele teve algumas anormalidades no pênis e falou para eu ir me testar. Eu fiz exames de sangue e eles vieram negativos, não pensei em fazer exame de urina. Eu disse para alguns amigos, mas não para a família. Eu deveria ser mais cuidadosa com parceiros e proteção agora, mas é difícil. – Anônimo, mulher cisgenêro, 21

Clamídia: “eu nunca contei para ninguém”

Eu descobri que tinha clamídia um pouco antes do meu namorado,. Quando começou a ficar sério eu fui me testar mas nunca contei para ninguém (ele, amigos e família) sobre o resultado. Eu tomei os remédios em segredo e comecei a fazer sexo sem camisinha uma vez que eu estava curada. Eu disse para ele que meu teste foi negativo. Uma vez que eu tenho o papel de educadora sexual entre meus amigos, eu não consegui admitir que cometi um erro, e eu nunca contei para minha família porque eles não são abertos sobre a sexualidade no geral. Eu tive que enfrentar isso sozinha e gastei bastante dinheiro para o teste. Foi um momento bem estressante, eu não tinha nem 19 anos e no meu país quando você faz 18, todos os testes não são mais de graça." – Anônimo, mulher, 20 França

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Herpes: “Meu namorado tinha herpes nas mãos”

Meu namorado na época descobriu um pequeno inchaço na sua mão, e era herpes. Ele ficou realmente chateado... Eu fui a uma assistência médica procurar orientação e lá me disseram “Você provavelmente vai pegar herpes se ficarem juntos, mas não se preocupe, muitas pessoas têm herpes e não é tão ruim.” Eu decidi ficar com meu namorado e alguns meses depois eu senti sintomas de gripe, seguidos de feridas dolorosas nos meus lábios vaginais. Eu voltei à médica e ela confirmou, sim, era herpes. Fui medicada mas os efeitos colaterais eram terríveis, eu me sentia nauseada, com febre e totalmente avoada. Desde então eu nunca mais tomei essa medicação. Eu me senti bem mal no começo, suja e com vergonha, e meu namorado estava de novo chateado e se sentindo culpado por me passar herpes...

Eu pensei muito como iria lidar com minha vida amorosa no futuro, dizer para as pessoas. Mas com o passar do tempo, aquela relação terminou e eu namorei outras pessoas que ou tinham herpes também ou não se preocupavam com isso. Isso se tornou um tipo de teste – eu via como as pessoas reagiam quando eu falava para elas, e então eu decidia se queria continuar saindo com elas.

Mais tarde em relações queer descobri que poderia usar luvas de látex para fazer sexo seguro, e me senti chateada que o primeiro médico em que fui não me sugeriu isso. Agora eu não sinto mais vergonha: contei para muitos amigos e amantes... Hoje em dia meus sintomas são muito mais leves, mas ainda afetam minha vida diária. Às vezes eu tenho que ficar de licença do trabalho por causa dos sintomas de gripe que podem vir com a crise de herpes. Por outro lado, ter herpes me forçou a me cuidar melhor: menos álcool e chocolate, mais horas de sono, menos estresse, já que essas são algumas das coisas que podem iniciar a crise. Parece que as crises de herpes também estão relacionadas à minha menstruação, geralmente vindo antes, durante ou depois dela se eu uso absorventes". – Anônima, não-binária, 38

HPV: “um contato com o câncer”

Meu exame de papanicolau anual veio anormal. Eu esperei 6 meses, de acordo com o protocolo, e fiz outro exame. Anormal de novo. Fui fazer um scan para HPV e deu positivo para os tipos 16, 18 e 31 – todos com alto risco de causar câncer cervical. Eu estava namorando a mesma pessoa por 5 anos, e isso causou o maior problema em nosso relacionamento, não saber de onde veio o vírus ou porque ele surgiu agora.

O que é importante lembrar é que o HPV pode ficar dormente em quem tem por um longo período de tempo, portanto ser diagnosticada com isso não significa necessariamente que seu parceiro/a traiu. Eu me senti muito sozinha e isolada, porque meu parceiro não entendia o que eu estava passando, e nem os meus amigos. Depois que meu teste deu positivo para HPV, eu fui fazer uma colposcopia, que mostrou uma displasia cervical forte. Eu tive que fazer uma biópsia de cone com anestesia geral para remover CIN3, que depois foi identificado como cancerígeno. Foi um grande choque para o meu sistema – não necessariamente a operação (doeu e foi desconfortável e sangrei por 2 meses) mas o impacto emocional que eu não esperava. Eu fiquei insegura e me senti desolada, como se eu nunca fosse voltar ao normal de novo. Agora faz 2 anos que fiz a cirurgia, todos os meus exames voltam sem nada, e só agora estou me sentindo de volta ao meu normal.

O estigma sobre ISTs é real. Por um longo tempo eu fiquei com muita vergonha em falar sobre isso. Agora, no entanto, eu sou a primeira a avisar minhas amigas sobre se testar regularmente e compartilhar minha história com o câncer, espero que com minha ajuda menos pessoas tenham que passar por isso". – Anônima, mulher, África do Sul, 29

HPV, clamídia e herpes: “O estigma sobre ISTs é nocivo”

Eu tinha 20 anos quando me diagnosticaram com clamídia e HPV. A enfermeira do meu ginecologista me ligou, mandou a prescrição para farmácia e me disse para não transar por uma semana. Eu não tive muita informação e me senti bem “suja” e que tinha me comportado como uma piranha, chorei até dormir. Eu informei o meu parceiro na época e outras três pessoas com quem eu estive antes do meu exame. O meu parceiro da época me deu um fora, mesmo ele tendo testado negativo. Os outros dois evitaram minhas ligações por semanas. Apenas uma pessoa, hoje em dia meu amigo há 10 anos, respondeu que ele tinha feito o teste e tinha dado negativo.

Eu não tinha feito um scan para HIV na minha primeira visita, então eu fui para clínica da universidade onde uma enfermeira levantou as sobrancelhas e me deu um sermão. Eu, como profissional da medicina anos depois, percebi que ela estava errada ao me julgar e deveria ter me encorajado a fazer o teste regularmente. O homem que me deu o fora foi eventualmente diagnosticado com herpes, outra doença comum, mas teve que enfrentar muito o estigma. Ele se desculpou depois e descreveu sua dificuldade com o estigma e isso me ajudou muito a superar isso.

Eu tive mais pacientes chorando no meu consultório por causa de herpes do que HIV, o que é na verdade mais letal. Mas o estigma em torno da ISTs é nocivo. Eu nunca digo “limpo” ou “sujo”. Eu quero que todos saibam que todas ISTs são tratáveis, e muitas curáveis.” – Anônimo, mulher, 29

Procurando mais informações sobre ISTs?

Leia mais aqui sobre doenças e problemas de saúde. Temos artigos respondendo as perguntas mais comuns e alguns mitos sobre ISTs e uma discussão produtiva sobre como falar com seu parceiro ou parceira sobre preservativos e sexo seguro.

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